A branquitude e seu papel na luta antirracista
Atualizado: 14 de dez. de 2021

Mês passado, em 20 de novembro, celebramos o Dia da Consciência Negra. É um dia de rememorar as lutas antirracistas travadas e lideradas pelo povo negro ao longo dos últimos séculos como forma de resistência e de possibilidade da manutenção de sua ancestralidade.
O projeto colonial-capitalista ergueu suas estruturas com base na escravidão de corpos negros (e do genocídio indígena – vale lembrar). Mas esse projeto se estende até os dias de hoje, assumindo outras características que tornam a violência ainda mais intrincada. Quando pensamos em nosso lócus de mulheres das geociências, predominantemente branco e de classe média, muitas vezes ignoramos que, para estarmos nesse lugar, muitas mulheres e homens negros são oprimidas em cargos subalternizados, dentro da empresa onde trabalhamos, ou da universidade em que estudamos.
O déficit habitacional é feminino e negro, a população carcerária é majoritariamente negra, corpos negros foram as maiores vítimas da Covid-19, cerca de 80% da população atingida pelo desastre-crime da Samarco/Vale/BHP é negra, os bairros que sofrem com a carência de serviços públicos são majoritariamente negros. Em contrapartida, nesses mesmos locais o poder público se faz presente para ratificar o papel para o qual esse modelo de Estado-nação, capitalista, sustentáculo da colonialidade, surgiu: gerir a desordem pelo medo. A população que morre nas mãos da polícia no Brasil é negra.
Nesse sentido, pensamos ser de suma importância debatermos o papel da branquitude na construção e perpetuação desse projeto civilizacional racista. Brancos criaram o racismo, brancos criaram a colonialidade, brancos se privilegiam com isso.
Um ponto importante também a se considerar é o de que quando pessoas negras e não-brancas ascendem socialmente, em profissões mais valorizadas, elas, muitas vezes, não são reconhecidas naquele lugar. Exemplos disso encontramos quando pessoas brancas se recusam a serem atendidas por profissionais negros. Ou quando esses profissionais não são reconhecidos como tais, mesmo portando identificação, em alguns casos, sendo confundidos com trabalhadores menos valorizados como aqueles da limpeza ou da manutenção do local. A branquitude não espera que pessoas negras estejam ali, em lugares diferentes da norma colonial, que os coloca somente em cargos subalternizados e não valorizados.
Todavia, existe uma dificuldade para pessoas brancas reconhecerem sua branquitude, reconhecerem que a categorização étnico-racial também as coloca dentro de uma compartimentação. Mas, importante aqui destacar que a divisão racial, criada pela branquitude europeia durante o empreendimento colonial, universaliza pessoas brancas como se elas não tivessem raça.
O fazer-se do branco e a superioridade criada pelos brancos para si mesmos não podem ser separados dos processos de criação do outro, ou seja, dos não-brancos. Não se trata de um processo de trocas entre brancos e não-brancos, mas de imposição de formas de classificação criadas por brancos sobre os não-brancos. Essas formas de classificação não são neutras, elas são acompanhadas de práticas violentas nesses relacionamentos geridos por uma práxis racista. Ao criar a inferioridade do outro, a branquitude criou