Nota sobre caso de professor de paleontologia denunciado por assédio
Atualizado: 14 de dez. de 2021

Leonardo Ávilla, professor de paleontologia da Unirio, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, está sendo acusado por estudantes e colegas pesquisadores de abusos morais e sexuais. São dezenas de denúncias que cobrem um período de 14 anos, de 2007 até agora. Os casos vieram à tona na internet, quando outro paleontólogo, da Universidade Federal da Bahia, publicou os relatos que ouviu, sem citar o nome do professor.
O jornalista americano Michael Balter, que se dedica a expor casos de assédio no meio científico, ao ter contato com os relatos, publicou o nome de Leonardo Ávilla, pedindo que as vítimas se apresentassem. E então, pessoas que, por medo, ficaram caladas durante anos, começaram a se encontrar e a falar. Uma reportagem no Fantástico relatou a conversa com 23 pessoas que contam sobre os abusos e perseguições sofridas. A repórter Sônia Bridi entrevistou 12 delas. A maioria prefere manter o anonimato. Veja a reportagem completa neste link.
Além de professor na Unirio, Leonardo Ávilla é coordenador de um laboratório de pesquisa na mesma universidade. Segundo as vítimas, o professor denunciado por assédio ameaçava cortar bolsa de quem reagisse: “Este laboratório não é uma democracia!”, ele dizia. Apesar de indignante, é bastante comum relatos de assédio sexual e moral de mulheres por parte de professores e orientadores de pesquisa homens. Essa posição de poder que a função de professor, orientador e coordenador exercem é simbólica, já que esses homens têm a possibilidade de acabar com a carreira profissional e moral das mulheres vítimas, coagindo-as, assim, a ceder à violência ou a ocultá-la. Mas é também uma posição de poder material, já que podem cortar a bolsa (o salário) das orientandas de pesquisa quando bem entenderem, sem necessidade de justificativa. De acordo com as vítimas de Leonardo Ávilla, o professor se valia do cargo de coordenador para ameaçar quem reagisse às investidas.
Nota-se que foi preciso o posicionamento de um homem para que houvesse mobilização da mídia e das instituições em levar a denúncia à frente. Tendo em vista que, à época de um dos casos de abuso sexual e moral, uma das vítimas foi até a delegacia, e, sendo atendida por um policial homem, escutou que o caso não daria em nada, e que ela poderia ser acusada por calúnia e difamação por parte do agressor, pois sua denúncia não era suficiente para dar andamento ao boletim de ocorrência. Ou seja, de vítima, passou a potencial acusada. Como no caso recente, violento e vergonhoso, em que Mariana Ferrer, ao denunciar um caso de estupro, foi condenada pela roupa que vestia. Importante lembrar (embora absurdo ainda ter que salientar) que a roupa nunca foi uma justificativa e nem o elemento disparador de um abuso sexual, já que a causa vem do agressor, jamais da vítima. Afinal, não ouvimos comumente casos de homens serem estuprados por mulheres ao transitarem por aí apenas de bermuda e peito nu. E mulheres seguem sendo violentadas independentemente da roupa.